O maquinista de trem aposentado e empresário do ramo de combustível da cidade de Santarém (PA), José Assis da Silva entra para o RankBrasil em 2021 pelo recorde de Mais jovem a trabalhar com carteira assinada. Nascido em 8 de julho de 1951, ele teve seu primeiro registro em carteira no dia 1° de junho de 1962, aos 10 anos, 10 meses e 24 dias.José teve a carteira assinada pela primeira vez como balconista e permaneceu no mesmo trabalho durante 11 anos e 10 meses. O paraense obteve o emprego numa pequena mercearia de seu tio Antônio Pereira, na localidade onde nasceu chamada Santarém-Miri, há 92 km por estrada da cidade de Santarém, que dava sete horas de barco.
Conforme o recordista, por ser uma região de difícil acesso ao município de Santarém, a mercearia do seu tio era o local onde os moradores de 12 comunidades adjacentes encontravam a maioria dos produtos de consumo. “Eu atendia os fregueses, comercializava produtos alimentícios, material de higiene, couro de boi, de cobra, de caça, leite de seringa, juta, malva, carne de peixe pirarucu, querosene, tecidos, utensílios domésticos, ferramentas, etc.Sendo o mais velho de 11 irmãos, José percebeu que seu pai precisava de ajuda para que a família não passasse fome. Assim ele aprendeu a pescar, a caçar, tudo que um caboclo ribeirinho necessitava fazer para sobrevivência. “Naquela época, as crianças não tinham muitas opções: o trabalho era considerado uma obrigação dos filhos mais velhos para ajudar a família”, explica. Antes do trabalho com o tio, a partir dos sete anos o paraense já ganhava dinheiro vendendo bolinhos de trigo que sua mãe fazia.
Atualmente, aos 69 anos de idade, o recordista acredita que é por meio das dificuldades que se pode crescer e alcançar novos patamares. Diante dos desafios do mercado de trabalho, ele sugere: “Os jovens precisam estar tecnicamente, profissionalmente preparados e a família tem papel fundamental na orientação e no acompanhamento desse processo”.O paraense destaca que é uma alegria ter conquistado esse recorde. “Espero que essa humilde trajetória histórica motive outras pessoas a lutarem por seus sonhos e objetivos, nunca sozinhos, mas levem consigo outras que também sonham e lutam por uma vida digna. Ele afirma que existem no país diversas experiências dignas de serem partilhadas, valorizadas e que nos motivam a acreditar que a vida vale a pena. “Muito obrigado ao RankBrasil pela oportunidade”, destaca.
Trabalhar enquanto criança
De acordo com o recordista, o trabalho enquanto criança atrapalhou muito seus estudos. Ao começar a trabalhar na mercearia de seu tio, ele não conseguiu mais estudar. “Atendia os fregueses das 5h às 21h. Passei 10 anos fora da escola. Só concluí o ensino primário (fundamental) aos 23 anos, quando vim morar em Santarém com minha família”, conta.
Por outro lado, ainda adolescente, José percebeu que o trabalho proporcionou a ele agir com responsabilidade, competência, criatividade e respeito às pessoas. O problema é que os sonhos de criança foram interrompidos. O recordista queria estudar pra ser marinheiro mercante, criar animais, obter seu próprio negócio. “Naquela época não tínhamos muitas escolhas. Por falta de oportunidades, sobretudo de uma educação escolar mínima, não pude realizar os sonhos de infância”, lamenta.
José entende o trabalho como a maneira mais fácil de viver dignamente. “No entanto, quando realizado fora do tempo necessário, ao invés de contribuir para o desenvolvimento integral da pessoa, passa a prejudicar”, afirma. O paraense explica que quando a criança lava louça, limpa o pátio, varre a casa, ajuda seus pais sem obstruir seus estudos, não é trabalho. “Considero trabalho quando a pessoa apta desempenha funções, cumpre horário estabelecido por lei”.O recordista diz ainda que a pessoa que está inserida no mercado de trabalho necessita se atualizar a respeito da profissão desempenhada, e isso só é possível através do estudo. “As leis trabalhistas em vigor são fruto de exaustivo estudo da realidade brasileira, por isso vejo positivamente o que a lei estabelece, onde é permitido o menor aprendiz e o jovem aprendiz dar seus primeiros passos como trabalhadores”.
Longo processo para o registro em carteira
José teve seu primeiro registro oficializado em carteira após um longo período. Depois de muitos anos trabalhando na mesma mercearia, teve a necessidade de montar o próprio negócio. Por orientação do patrão, que era uma pessoa justa, o paraense decidiu procurar o Ministério do Trabalho, para que fosse calculado o valor real de quanto deveria receber ao deixar seu emprego.Sem ter muito conhecimento na época, ele procurou a Justiça do Trabalho no lugar do Ministério do Trabalho, o que causou um processo judicial mesmo sem ter a intenção. Depois das explicações ao juiz, José e seu tio fizeram um acordo e continuaram amigos até a morte de seu ex-patrão, que ocorreu este ano. “Aquela audiência está marcada na minha memória e na minha história”, revela.
Mas foi somente nos anos 90, quando houve o anúncio de aposentadoria por tempo de serviço pelo Governo Federal, que o primeiro registro em carteira de José seria oficializado. “Foi quando me dei conta de que aquele processo judicial poderia contribuir para eu me aposentar”, diz.Orientado por um servidor do então Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), o paraense procurou o ex-patrão para assinar sua carteira de trabalho. “Naquela audiência do acordo trabalhista, os demais direitos tinham sido concedidos, faltando apenas a assinatura da carteira, o que não ocorreu logo em seguida por displicência de ambas as partes. Feito o registro, o processo para minha aposentadoria ficou mais fácil”, finaliza.
RECORDE SUPERADORecordista | Idade | Cidade/Estado | Ano |
José Assis da Silva | 10 anos, 10 meses e 24 dias | Santarém/PA | 2021 |
Fernando Ribeiro Alvares | 11 anos e 7 meses | Belo Horizonte/MG | 2008 |
Angelo Macedo | 12 anos e 9 meses | Canela/RS | 2007 |