Mesário mais idoso do Brasil vai deixar atividade

Com 81 anos de idade e há 62 exercendo a função, José Carlos Mello Rocha pretende trabalhar pela última vez nas eleições de 2012. Recordista brasileiro faz parte da história do país

03/08/2012
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Mesário mais idoso do Brasil vai deixar atividade
José Carlos Mello Rocha é uma personalidade brasileira no que se refere a eleições. Ele nunca foi candidato, mas desde 1950 participa ativamente da democracia do país, escolhendo os governantes e também auxiliando eleitores durante as votações.

Com 81 anos de idade e uma simpatia contagiante, o paranaense que nasceu em Jaguariaíva é o mesário mais idoso do país em atividade, recorde registrado oficialmente pelo RankBrasil. Já são 62 anos exercendo a função, atuando em quase 50 pleitos.

O título de eleitor, ele fez em 1949 e no ano seguinte, em sua cidade natal, atuou como mesário pela primeira vez, quando Getúlio Vargas foi eleito presidente da República. José Carlos gostou da experiência, abraçou a função e entrou para história.

Em 2012, ele será mais uma vez mesário da zona 177, em Curitiba – PR, divisão que atua desde o início da década de 60, época em que se mudou para a capital. Com o início do voto através de impressões digitais, terá acumulada a experiência de poucos brasileiros: presenciar as quatro fases eleitorais do país, entre urnas de madeira, de lona, eletrônicas e pelo sistema biométrico.

“Foi uma grande evolução tecnológica, tornando as eleições mais seguras e acelerando o processo, tanto na votação, quanto nos resultados”, destaca José Carlos. Com sabedoria de quem entende exatamente do que está falando, ele diz que neste período o perfil dos eleitores também mudou.

Segundo o mesário, a política atual desestimula os brasileiros. “Os eleitores vão às urnas mais pela obrigatoriedade, quando deveriam ir pelo direito de escolher seus representantes e conscientes do dever enquanto cidadãos”, completa, justificando porque é a favor do voto livre.

Aposentado desde 1986, na vida profissional trabalhou como cartorário e em administração de empresa. Depois destas eleições, José Carlos pretende aposentar também a função de mesário, não por falta de condições físicas ou mentais, mas porque acredita que chegou a hora de parar. Mesmo que não trabalhe mais no processo eleitoral, seu nome sempre será digno de ser lembrado.

Recordista brasileiro com orgulho
Apesar de acreditar ter requisitos suficientes para entrar no Guinness World Records, o mesário não fez questão do recorde mundial. “Por outro lado, eu me rendi ao convite do título nacional, porque é uma honra fazer parte do RankBrasil”, diz. “Por ser um prêmio do nosso país, pra mim é muito mais importante e significativo”, explica.

Reconhecimento
Por sua dedicação ao processo eleitoral, José Carlos recebeu muitos outros títulos, entre eles, o ‘Pritaneu’ (honraria pelos serviços prestados), do Rotary Club Curitiba. Pela Câmera Municipal, foi nomeado ‘Cidadão Curitibano’ e ‘Cidadão Honorário’. Através do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), recebeu o título de ‘Mesário Padrão de Curitiba’ e ainda ganhou a ‘Medalha Mérito Eleitoral das Araucárias’.

Histórias de mais de seis décadas
Em mais de seis décadas atuando como mesário no Brasil, José Calos tem muitas histórias para se lembrar. Um dos casos mais curiosos é o de Sophia Loren. O nome artístico da atriz italiana – que fez sucesso mundial na década de 60 – estava na lista dos eleitores que seriam auxiliados pelo mesário há cerca de 30 anos.

A especulação foi certa e todos queriam saber quem era e qual era a aparência da Sophia Loren brasileira. Tanto no primeiro, quanto no segundo turno o desapontamento foi geral. “Ela não apareceu”, lembra o mesário, rindo do passado.

Dois anos mais tarde, lá estava o nome da atriz na lista dos brasileiros que votariam na divisão eleitoral de José Carlos. Nova expectativa, outra decepção. “A eleitora Sophia Loren nunca apareceu e até hoje não sabemos se ela era loira ou morena, baixa ou alta, gorda ou magra”, comenta, provavelmente ainda curioso.

Revelação
“Isto era segredo até pouco tempo atrás, porque fiz algo que não poderia realizar enquanto mesário”. Com esta revelação, José Carlos começou a contar uma situação bastante antiga, em um momento que seu lado humano dominou o profissional, mesmo sabendo dos riscos que corria.

Em uma eleição, um senhor que se apresentou como um candidato pediu a ajuda do mesário, dizendo que sua mãe queria votar, mas não conseguia sair do carro por estar muito doente. Sensibilizado, ele quebrou as regras, levando a cédula de votação para fora do colégio eleitoral, juntamente com alguns fiscais. “Foi totalmente secreto: não vi e não deixei ninguém ver o voto”, afirma.

Campeão brasileiro de palavras cruzadas
A história do trabalho como mesário se confunde um pouco com as palavras cruzadas, atividade que José Carlos também pratica desde o início da década de 50 e que segundo ele, incrementou consideravelmente seu vocabulário e raciocínio.

Em 2005, pela velocidade em encontrar as palavras, foi campeão brasileiro, durante o Encontro Nacional dos Cruzadistas. Por ativar o cérebro, atualmente o hobby faz parte de sua reabilitação neural, a que se submete desde 2008, quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Na mídia
Descoberto em 1996, depois de sair na mídia pela primeira vez, o mesário já deu várias entrevistas para jornais, programas de rádio e TV. Em 2006, recebeu em sua casa, em Curitiba, o renomado jornalista Ernesto Paglia. Virou manchete no Jornal Nacional e seu trabalho foi exibido para o Brasil inteiro. Mais do que uma bonita história, José Carlos é um exemplo: de vida e cidadania.


Redação: Fátima Pires